No princípio foi a fascinação do reencontro, o relembrar de memórias já recalcadas no armazém cerebral, relegadas para um canto forrado a teias de aranha, numa das poucas prateleiras não ocupadas com futebol, cerveja e fêmeas.
Depois, dei-me lentamente conta que afinal aquilo não era tão bom quanto isso. Pior, à medida que as faixas iam avançando, percebi que cada uma era mais básica e fraquinha que a anterior. Que as letras caminhavam inseguras em bicos de pés pela fronteira tripartida entre o infantil, o absurdo e a comédia não intencional.
...suponho que o avançar dos anos nos faça glorificar inconscientemente coisas que para nós tenham tido alguma relevância no passado - o que significa que no futuro acabaremos por ficar desapontados quando nos deparamos novamente com elas.
Bolísticamente falando, é possível que afinal a minha memória seja toldada pela tal glorificação do passado quando digo no café que o Caccioli fez uma média de quarenta e duas venenosas assistências/ano para golos de contra-golpe do Mangonga nas treze épocas que partilharam o relvado do Adelino Ribeiro Novo. Porém, folheando os Cadernos da Bola, vejo que apenas coçaram as respectivas partes baixas no mesmo balneário durante três épocas, de 92 a 95. E o Makopoloka Mangonga nunca marcou mais de sete golos num ano.
Oh well...chamemos-lhe o Efeito Guano Apes, ou "a memória da minha adolescência acabou de ruir como um castelo de cartas ao qual foi ateado fogo durante um terramoto de 9.2 na escala de Rochemback, seguido de um tsunami, a Júlia Pinheiro aos berros num megafone e uma queda de meteoros".
E com isto pusemos o Carlos Martins a chorar de novo. Calma, rapaz. Respira fundo que isso passa.
Mas o melhor exemplo da aplicação do "Efeito Guano Apes" na minha memória boleira nem é a proficuidade (ou falta dela) do Caccioli no que respeita ao destrocar de acintosos passes para golo.
Quando me perguntam por Santo Tirso, normalmente respondo algo incoerente que inclua os termos "jesuítas", "gajos com demasiado gel no cabelo", "doçaria conventual", "crianças de 8 anos a coser sapatos", "Lamborghinis" e "o grande Tirsense dos anos 90".
Posteriormente, começo a debitar informação mais ou menos fidedigna relacionada com esse período histórico da colectividade nortenha, enquanto me babo, imito expressões faciais do Paredão, esbracejo furiosamente, festejo golos do Marcelo através de mímica e faço o pino três ou quatro vezes. Sou um fã.*
Porém, olhando com frieza para trás, vejo que as três qualificações Europeias (quartos-de-final da Liga dos Campeões inclusivé), o 3º lugar em 1996, as duas Taças de Portugal, a presença do Caetano num torneio vencido pela Selecção Nacional**, e os 8-0 em Alvalade nunca aconteceram.
OK, uma delas aconteceu, mas as outras são pura ficção.
Será que o Tirsense nunca foi tão bom quanto o pintei na minha distorcida mente?
Será que foi tudo um lindo sonho?
Será que estamos perante o temido "Efeito Guano Apes"?
Sim. (pára de chorar, Martins. Cacete.)
Na verdade, durante os 90's, os Jesuítas Negros estiveram apenas cinco anos no escalão principal, tendo sido relegados à 2ª Divisão de Honra em três deles (16º em 90/91 e 92/93, e 18º [!!] em 95/96). Verifico dolorosamente que nunca passaram do 8º posto (94/95), e que Caetano nunca foi o melhor marcador da 1ª Divisão (1934 - presente).
Uma merda, é o que é.
Porém, em Honra da minha memória daquilo que nunca foi o FC Tirsense, 'bora escarnecer e zombar de meia-dúzia de cromos.
É fácil falar do Marcelo, do Caetano, Paredão e Siasia (aliás, tão fácil, que já falei de todos eles acima - e agora do Siasia também), mas quem é que se vai recordar destes dois trambolhos?
É demasiado simples ignorá-los: o José Carlos é uma espécie de Vítor Nóvoa do Tirso, um aquecedor de banco com um frontespício semelhante a 83% de todos os serial killers alguma vez registados. O Zé das Redes apenas realizou um mísero desafio em toda a época, dado encontrar-se na sombra do gigante Goran. Vem daí, se alguém encontrar o sérvio sem vida no leito de um rio, por favor não se surpreenda.Quanto ao Mota, também ele tem sósias. Aliás, não lhe chamaria sósias. Diria que o diminuto lateral tem sérias parecenças com uma meia cheia de laranjas. Não sei porque raio alguém iria encher uma meia com laranjas, mas imagino que caso o fizessem, o resultado iria ser semelhante à cara do Mota. E pronto...ao menos jogava à bola, coisa que o amigo José Carlos não podia afirmar com ar sério.
Mas há mais. Também temos o Jorge, que não tocava muito no esférico, mas tinha uma expressão facial de enfado assaz interessante. O Jorge só fez um jogo - mais uns trocos - na época da foto (95/96). Curiosamente, o Tirsense ficou em último lugar do Campeonato, com 17 derrotas e 53 golos sofridos. Vocês sabem do que estou a falar.
...e falta este cromo, que todos reconhecem do Farense. Mas o que faz ele em Santo Tirso?
Diria que não trabalha numa fábrica de têxteis, pois já não é propriamente uma criança. Pois bem, sucede que este Luisão (que é central como o outro, mas sem a embriaguez ao volante e a cabeça fálica), rastejou até ao Ave no final da carreira, onde se arrastou até ao final da época de 95/96. Felizmente, não teve oportunidade de se arrastar muito (5 jogos, 3 amarelos), evitando assim sujar o seu belo equipamento Reebok que ostentava orgulhosamente o ditame "Vale de Tábuas" ao peito. Ainda para mais, é parecido com a Grace Jones. Não sei se isso faz dele andrógino, até porque ela é bastante...hm...andrógina. Na pior das hipóteses, o Luisão é parecido com uma mulher que é parecida com um homem. Não sei se isso é bom, se é mau. Estou confuso.
Só sei que não voltarei a ouvir Guano Apes tão cedo.
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* foto gentilmente gamada daqui
** pois é: Caetano.
4 comentários:
grande tirsense e grande goran. o punisic tb n passou pr lá?
Como se chama o Cromo da bola que se encontra entre o Borges e o Eskilsson, na imagem inicial do blog?
Obrigado. :D
Muito bom. O 'efeito Guano Apes' está muito bem descrito. E na foto, podemos ver o que seria o substituto do substituto José Carlos (sim, há estranhas formas de vida) no canto superior direito: sim, é ele, o Best.
Carrasqueira: o Punisic (Beira-Mar e Farense) não diria, mas o Giovanella sim. E o Rashid Daoudi também.
Caldas: esse é o mítico Quitó e poderás encontrar um post dedicado a ele lá nos confins deste espaço, buscando pela label "Feirense".
Muito obrigado, Rodrigues. Estive à procura dele no zerozero e tudo, mas não o conseguia encontrar.
Quitó e o Borges lutam pelo 1º lugar do pódio dos mais cromos.
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